chego a ele em ondas
sexta-feira, 22 de agosto de 2025
chego a ele em ondas
terça-feira, 19 de agosto de 2025
sexta-feira, 1 de agosto de 2025
agora que não tenho filhos
e jamais terei netos
me pergunto quem iria
lembrar das horas
passadas com minha mãe
me contando de meu avô
meu pai e minha avó
minhas tias e seu avô
repetindo sons
como quem repete
a memória outra
me contando de seu avô
e da violência
que não compreendia
(em outra língua)
(no seu corpo)
(no corpo do meu tio)
me contando
de mim
quando ainda nem sabia
que seria assim
a memória está só, enfim
agora que não tenho filhos
pois nunca os quis ter
me pergunto quem irá
lembrar
do meu pai
lembrado (eu queria)
por sua
alegria (também)
por seus
defeitos
(e mais) pela
tentativa
de ser o que não foram
para ele
por não ter
me esbofeteado
por quererem
lembrá-lo
eu não me lembro
como era meu pai
com a minha avó
como foram os onze anos
com sua mãe
que eu não conheci
a memória está sempre por um triz
agora que não tenhos filhos
pois nunca os tive
me pergunto quem irá
lembrar
da minha avó
lembrada (me dizem)
por sua
beleza
por sua
doçura
epilética
morreu espancada
pelo meu avô
que também
esbofeteou
minhas tias
que fazem questão
de não lembrar
do próprio avô
do meu
eu lembro
os modos de dizer
a risada
e que morreu
dançando feliz
a memória é um risco de giz
na academia
a frieza da palavra me toma como uma lâmina de ferro gelado parece vidro porque é frágil mas me permeia como as árvores o vento
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ora thiago falando de frankenstein entro nos teus lábios observo cautelosa a flor que se abre entre meus dedos toco a carne da tua boca des...