sábado, 29 de setembro de 2018

Corpo estelar, de Fabio Pusterla

Corpo stellare de Fabio Pusterla

Me segues com um pensamento, és um pensamento
que não devo nem mesmo pensar, como um arrepio
me chamuscas suave a pele, moves os olhos
para um ponto claro de luz. És uma lembrança
perdida e luminosa, és o meu sonho
sem sonho e sem lembranças, a porta que se fecha
e se abre sobre a corrente de um rio impetuoso. És uma coisa
que nenhuma palavra pode dizer e que em cada palavra
ressoa como o eco de um lento suspiro, és o meu vento
de folhas e primaveras, a voz que chama
de um lugar que não sei e reconheço que é meu.
És o uivo de um lobo, a voz do cervo
vivo e mortalmente ferido. O meu corpo estelar.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

da medusa

i. o riso

ressoa uma música antiga
: uma flecha que se separa do arco
e atravessa o mar de ítaca

conversas com esta, a mulher
que te olha nos olhos
e te faz perceber que o monstro
é a tua pintura barroca
e te faz perceber que o monstro
é a tua música eletrônica
que é; enfim, que sou


ii. o canto

conversas com esta mulher
que te pega pelas mãos
e te faz sentir o monstro
dentro do teu corpo
corposo
em cada curva
escondida, o monstro
corposo

conversas com esta mulher
que te faz ouvir
o canto das sereias
do fundo do mar
da infância
ecoam
go all the way
don't punish yourself
don't be a secret
be a monster
não para aliviar a tensão
não para polir os cantos
laminados dos teus olhares
e da tua voz e dos teus dedos
segredos

go all the way
porque quem fez
este caminho
foram outras antes de ti
e agora deves percorrer
a trilha das flores macias
inquebrantáveis
monstruosas e ainda mais corposas
que tu
ouves o grito
sereno que continua

iii. a transformação

perdura o riso das bruxas
enquanto te debruças
sobre novas pinturas

mulher
escreve
escreva
mulher

e não esqueça

o monstro escondido no lago
é a criatura mitológica:
um fascínio
a ser explorado


abro as asas e deixo vênus me abraçar

na minha cidade há uma rua em que os carros param e parecem à beira do abismo esperam o semáforo e dali pra frente é só pra baixo rumo ao ho...