terça-feira, 9 de outubro de 2018

perseu me persegue pelas ruas
quer arrancar a minha cabeça e
despedaçar meu corpo feito fosse
uma placa; quer arrancar minha língua
e furar meus olhos, jogar meus restos
numa vala.
perseu me persegue pelas ruas
quer segurar bem alto minha cabeça
feito fosse troféu: prova viva da perversidade.
me pesca em cada esquina
(o anzol tentando arrancar a minha língua)
me procura e convence
meu pai, meu irmão, minha mãe
e até minha tia falecida
de que minha vida
minha cabeça
meu corpo
são dele
perseu
me persegue pelas ruas
quer enfiar a língua na minha boca
e alcançar as minhas entranhas
gritando que até minha vida
depende das mãos dele
quer enfiar mesmo a mão e me atravessar
segurando bem alto minha cabeça
feito fosse troféu da sua verdade
perseu me persegue pelas ruas
quer arrancar a minha cabeça, mas
(não sabe?)
aí estão minhas serpentes
que vão lhe arrancar a mão à força
e fazer dele história da perversidade verdadeira
memento mori das tempestades vencidas
me persegue, mas encontra apenas meu olhar
de pedra e fúria

na minha cidade há uma rua em que os carros param e parecem à beira do abismo esperam o semáforo e dali pra frente é só pra baixo rumo ao ho...