esta cidade é uma concha
hermeticamente fechada
(ironicamente toca hermeto
pascoal, na vizinhança)
dentro
na língua a pedra
um pedaço de ruína
a saliva é puro pó
do teu quarto, que não conheci
do teu banheiro, onde não vi
teus cabelos no ralo
da tua janela, de onde não percebi
o telhado da minha casa no horizonte
da tua cama, que já desconhece o cheiro
e o calor da minha pele
nela em que tanto desembaraço
já cometemos
quando um dia empunhar a faca
certa com a lâmina ardida
adequada certeira e puder abrir
esta cidade
arregaçando delicadamente
de um lado a outro a concha
feito um sorriso enternecido
me pergunto se finalmente vou
encontrá-la em tuas mãos