segunda-feira, 30 de setembro de 2019

4D

pertenço agora ao tempo
e este meu pobre corpo
pueril empoeirado coberto
de pólvora
retorna ao seu estado
originário
me dissolvo no rio
invisível do tempo
e não altero sua cor nem
sua densidade, nele me penetro
e ali me pertenço
um invisível círculo perfeito
o sol se esgota no mar
que
infinito
se atropela na cidade
e meu corpo
à beira mar
inquieto
como aves
invisíveis
as ondas quebrantam em meu corpo pelas ruas
cimentadas de suor e angústia
e a noite chega
soturna como ave de rapina
quem me dera de repente
poder brotar entre teus
lábios carnudos carnudos
vermelhos carnosa e
vermelha feito uma
laranja-bahia
espalhar meu suco
bem dentro da tua boca
explodindo feito
um vulcão com saudade
de entrar em erupção

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

entulhada de coisa

minha sala parece cada
vez menor
nas estantes encontro
meus muitos livros mas as
páginas
todas
em
branco
para minha surpresa e decepção
pego uma de minhas muitas
e coloridas canetas e decido
eu mesma
escrever um romance
uma ideia mal me brilha as veias
da porta me
gritam amélia
nos cadernos, não!
já falei!
a dona da papelaria?
sempre venho aqui e é
essa gritaria
sempre repreendendo
o barraco faz a freguesia
eu acho?
grito como num aviso
faltam livros nessa tua biblioteca
os jovens são uns...
vou te contar
essa minha sala está
cada
vez

deus

um homem caminha pelas nuvens
seus calcanhares rachados suas unhas
encravadas crava seus dedos na superfície lábil
mantém-se firme ereto
anuviados os olhos contemplam a
vastidão
considera a necessidade real
de sua existência
um passo em falso percebe
descobre
: o céu imenso

lendo benjamin

vai ver é por isso que não se fazem facas de vidro
que é tão liso e duro e sóbrio e frio e nada fixa
e não tem nenhuma aura
e uma faca é
ao contrário
rígida e pungente e ensanguentante
ela é forjada no calor fundente do fogo
enquanto músculos potentes se aquecem sobre ela
e uma faca não pode
se estilhaçar e morrer no primeiro ataque
uma faca tem que
durar
para cortar e sangrar e atacar
porque uma faca é uma ameaça
é uma peixeira pensa no buxo
é um corte certeiro
>e falta algo aqui<
e um vidro é
o inimigo do mistério
uma faca é um objeto em construção
como um poema
e sempre deixa um rastro
de sangue de suor de vida

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

nada mais belo do que
o inacabado
a ruína do

"o ditado do poema": cruzamento inextricável

o que é
o amor
esta palavra

na minha cidade há uma rua em que os carros param e parecem à beira do abismo esperam o semáforo e dali pra frente é só pra baixo rumo ao ho...