o nosso amor não teve, querida,
as coisas boas da vida
o corpo encaracolado no cantodo sofá, suave feito um bicho
coberto de musgo de há tanto
que não se move, não se vive
o corpo como uma concha
esvaziada ainda (ainda)
às vezes uma menina brinca
encosta-a ao pé do ouvido
e ri baixinho com o que crê
ser eco do som do mar
e é falso
concha vazia, resquício
de alguma vida (queria)
enrolado em si mesmo
ensimesmando-se em si
voltas sem fim
sem fim mesmo
uma menina percorre
a curva com a ponta do dedo
e em algum momento
percebe que não tem
saída: é uma concha vazia
se vai da entrada
para a parte de dentro
encontra nada
direção contrária:
poderia?
ainda?