sexta-feira, 11 de agosto de 2023

infância

naquele tempo não havia relógios
mas tio paulo já tinha bigodes brancos
eram anos de subir em árvores
e apanhar de vara verde
de cócegas de barba na barriga menina
até o riso se tornar desespero de alegria
ali sabíamos da extensão do dia
pelas corridas pelo campo e a hora
de voltar do meio do bosque escuro
com as pernas cortadas apenas de leve
pelo mato alto e muito verde
sabíamos da passagem do tempo
pelo sangue que seca antes de escorrer
assim também conhecíamos a química
e o efeito oxidante do tempo no corpo menino
passávamos tardes inteiras com o sol
nas gangorras e nos balanços
foz do iguaçu era o mundo inteiro
te lembras talvez do dia em que descobrimos
que nossa cidade era impossível de se ver
no globo: toda aquela bola era o mundo!
mas já sabíamos ali mesmo no campinho
todo o mundo era uma bola na mão
e jogar com regras improvisadas recém descobertas
com a pele descobríamos a textura do mundo
com o caminhar das minhocas por nossos dedos
todo o movimento que tecíamos no vento
as mãos cavavam a hortinha em busca
da origem de tudo e para isso é claro
não nos perguntávamos nada
bastava o entendimento absoluto da curiosidade
e o mundo inteiro na ponta dos nossos pés sujos e macios
naquele não tempo não havia palavras

Nenhum comentário:

Postar um comentário

das conchas

todo ato de fala verdadeiro é um gesto de coragem e nada mais forte do que ser                                                       vulnerá...