domingo, 6 de agosto de 2023

 para o tio Paulo

hoje deus foi mesquinho conosco
mas não contigo, tio
hoje reencontras teu irmão
tua esposa, e todo esse amor
que sempre exalou de ti
feito eterna primavera
florescias em tudo
tio-avô, tio, avô, fostes tudo
na organização do teu quartinho
ainda vejo teu chinelo e a camisa passada
que deixas te esperando voltar do banho
com aquele calor que acorda a casa
(agora, esperas por nós com tuas pernas cruzadas?)
fostes pai do meu pai quando teu irmão não estava
fostes pai e sogro e amigo da minha mãe
fostes tio, avô e amigo, de mim e do meu irmão
sempre tão solitário, tão ecoando teu sobrinho que também não estava
quantas pessoas couberam em ti, tio, teu sorriso os evocava, ecoava
(quem agora ajuda todos esses filhos e netos a desatar o nó da garganta, que trava?)
quanto deles viveram em ti e estiveram em vida por ti
quanto amor coube nesse teu coração, que enfim descansou
abrias nosso mundinho com tuas histórias de menino
de homem, mas sempre moleque travesso que vivia
pulando cerca, atravessando rios, colhendo mangas
e dançando até o pé cansar
teu sorriso era um docinho junto do café depois do almoço
a casa em silêncio dormia e teus passos miúdos moviam o mundo
mas
que mundo é esse que nos resta, tio
sem tua doce rotina, meu querido avô
sem tua cadeira de mangueira na frente de casa
sem teu olhar cuidando da rua pouco movimentada,
do movimento das mangueiras o ano inteiro
e da companheira lilly, cujas patas se moviam no ritmo do teu andar
que mundo é esse que nos resta, tio
sem tua voz pra nos fazer ouvir todos que nos faltam
te somas a eles, multiplicando nossas saudades
que mundo é esse que nos resta, tio
todo tão quieto e descalço
agora que você viveu

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