teu amor feito navalha
me escrutava o corpo
obediente e quieto
me abrias a pele
em mim buscavas
alguma lacuna
onde te enfiar
meu corpo se habituava
serenava o sangue fluía
lento e quente e vivo nas tuas mãos
enfim quentes ainda que também
sempre muito trêmulas
tinhas toda a confiança
dentro de ti
mas te traíam as mãos
hoje passo os dedos pelas cicatrizes
que me deixastes corpo afora
então me sinto sempre
e não sei o que fazer
com elas que me preenchem
toco com todo o cuidado
para evitar que se abram
mas sempre noto apenas
um grande buraco
então me sento sempre
e me pergunto se
na ponta dos teus gumes
de cirurgião descuidado
ainda lambes
minhas partes faltantes
quinta-feira, 27 de abril de 2023
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