sexta-feira, 8 de março de 2019

8M

nem bótom
nem batón
validam meu corpo
(o meu corpo)
na rua
ou fazem ouvir minha voz
ecoando na rua
ou amarram minha mão à tua
na rua gritando alto;
nem bótom nem batón
me obrigam a ficar em casa
calada, recatada
glitter só do fogo dos meus olhos
e é com meus pés que me levanto
e caminho
e atravesso a rua
e espero o momento em que o sinal
ainda fechado
me dá uma brecha
e com meu corpo
(o meu corpo simplesmente)
eu avanço
e é meu corpo que pula
e é a minha garganta que em chamas
grita bem alto
não sou pacifista
quero jogar bola com cabeça de fascista
e é na minha cabeça, de cabelos soltos
as serpentes enlouquecidas
o suor escorrendo pelas têmporas,
onde o jogo começa
e eu grito gol;
nem batón nem bóton
maquiam, decoram, distraem
meus olhos do caminho:
eu piso com força
o meu corpo inteiro engajado
como se minha força sozinha
pudesse soltar as placas tectônicas

e avanço, mesmo que devagarinho; é por élle, que vive, hoje e sempre,
que é semente,
que eu me levanto e caminho e atravesso e grito e pulo e solto as serpentes e suo
todo o meu corpo
na rua
que é minha

Um comentário:

  1. "Forço as solas dos sapatos contra a terra, como se minha força sozinha pudesse segurar as placas tectônicas. Desenredo os braços das minhas pernas. Espalmo as duas mãos no chão, quero me grudar à superfície na esperança de sacudir menos." (Julia Dantas, Ruína y Leveza, Não Editora, 2015, pp. 11 - 12)

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