há décadas crio um cacto
delicado
esperando que me dê flor
e um pouco de cor
troco-o de vaso
admiro seus espinhos
e lhe rego com carinho
esperando o dia em que se despetalará
numa sinfonia de Bach
crio-o há décadas
entretanto
o silêncio
nos permeia há anos
olho seus espinhos
com tristeza:
ali não há beleza
é um desgosto
não há beleza
em formato tão asqueroso;
passo semanas sem lhe olhar
só para voltar e encontrar
cada dia mais espinhos
lhe nego devagarinho
me esqueço de todo carinho
*
*
*
te esqueces:
o que me faz cacto
não é a flor, mas o espinho
volta e meia te sentas à janela
e esperas por uma brisa velha
que nos sacuda
é quando penso: deus nos acuda
então vejo que teus dedos
sorrateiros
começam a troca de vaso
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