quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

poesia

se toca uma corda, uma tecla,
ou se assopra um saxofone
a música m'embala
faz flutuar
e meu corpo
vira marionete
enquanto a palavra
pesa
e faz do meu corpo
verbete
ê
latim corpus, -oris
s. m.
[figurado]
[anatomia]
[expressões idiomáticas]

me reduz a um esquema
um cacoete
ê

eu que sou rima
quando me estimas;
verso livre
tom e meio tom
quando me deixas passarinha;
eu que sou arvoredo
peixes e desejo;
eu que quando ouço um disco
viro vapor
e onda magnética
que viaja no torpor
rítmico de uma jovem frenética
e na suavidade da cor
de uma flor de hibisco

eu
que não tenho fim
e vou
eu
que do carnaval sou confete
e das marchinhas sou
todas as vogais abertas
e semi-abertas
e sou parte do que se erra

eu
que não descrevo nem solfejo
a menos que me queiras palavra
latim parabola, -ae
s. f.
[...]
eu
que não me encerro
em vogais fechadas
que sou orquestra completa
que não obedeço
sou sinfonia e desarmonia
e sou também silêncio eu
que sou acesso
que te cruzo num ponto do infinito
que é o que
é

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