quinta-feira, 19 de abril de 2018

de vagar (ou o parto)

não me cortem as asas,
'inda que despetaladas,
deixem-nas como estão:
asas que não dão voo
alto ou de sã direção,
que vão sem sofreguidão:
um voo vago, voluptuoso
que vem e vai por veredas
(um grande sertão) que vê
um homem no chão - não,
uma mulher - no chão; verdes,
o entorno e os que vêem,
vagantes e vigilantes,
vêem-me a alma.
vem e me acalma
outro voo vão, alucinação
também vã, mas ainda
mais ainda vos peço,
última vez, última voz:
deixem-me as asas, partidas,
para que nelas me possa partir
sem que me estorvem o voo:
não me cortem as asas
já que voo feito pavão
e voo pelo povo
e povoo o meu sertão -
vai-e-vem da minha solidão.

{ ~ 29 - 02 - 18 }

Um comentário:

  1. "Q: Is your poetry an expression of vanity?

    A: If you mean, is it a form of exhibitionism, probably it is. I have never really thought about it seriously, but telling one's feelings to unknown people is a little bit like selling one's soul. On the other hand, it brings great happiness. All of us have sad things happen to us in our lifetimes. In spite of everything, when those terribly horrible things happen to a poet, he or she can at least describe them. There are other people who, in a way, are sentenced to live through such experiences in silence."

    http://articles.latimes.com/1996-10-13/opinion/op-53412_1_writing-poems-people

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