segunda-feira, 30 de abril de 2018

enquanto o sol nasce

sonho um jardim cimentado em rosas
de todas as cores que crescem em tom
desabrocham laranjas, definham violetas
-- o fim de um pôr-do-sol

bem no meio, em pé, rodeada de folhas
e cal, e minha mãe que me olhava
(ternura nenhuma, inquisição impura)
seus olhos mais claros que as folhas
das roseiras; espinho nenhum
-- o sol que nasce atrás da minha cabeça

parada perdida pronta para decifrar
tantas cores, rosas que não sabia se eram minhas
contrastavam com a cal em minhas tranças
o céu cor nenhuma e uma casa ao fundo
onde ninguém morava, onde ninguém vinha
imensidão grotesca do impuro

todas coisas a mim desconhecidas

eu sonhei o jardim de rosas cimentado
eu sonhei o mar violento, meu sobrinho coroado
eu sonhei os cachorros do meu irmão latirem para mim
eu sonhei as pedras menos preciosas dum hippie chinfrim

de todas elas, nem amazonita nem família nem pétalas
eu pude colher
de todas elas, nem amazonita nem família nem espinhos
eu soube dizer
de todas elas, nem amazonita nem gente nem espinhos
eu pude escolher
de todas elas, nem pedra nem gente nem espinhos
eu soube reconhecer

despertador que não encerra esse sonho púrpura
-- no meio do céu, bem escura, a lua pura

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na academia

a frieza da palavra me toma como uma lâmina de ferro gelado parece vidro porque é frágil mas me permeia como as árvores o vento