semeia-me o mar, amor
para que eu coma
dos frutos e flores
azuis como o ar
e viva de ser dor
adormecidamente
semeia-me o vento, vida
para que tu venhas ver
e ser um pedaço de mim
e então te tornes fluida
tão naturalmente
semeia-me, fogo louco,
com tuas chamas negras,
inflama meu véu rouco
para que eu queime
cada parte do meu ventre
ecoando um canto
alucinadamente
semeia-me o pranto, anjo
para que a gente se esqueça
que do outro lado do mar vivido
só tem mais mar a ser vivido;
e vive-se aqui, o mar daqui,
um pouco de mim e de ti
na semelhança as diferenças se encontram
como todas as cores no branco
morre-se aqui, assim,
sozinho e sem perigo
feito semente em umbigo
de bebê recém-nascido
o trechinho é de "bodas de ouro", da szymborska, terceira estrofe, onde se lê "o sexo fenece, os segredos se consomem / na semelhança as diferenças se encontram / como todas as cores no branco"
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