quinta-feira, 30 de outubro de 2025

estou escrevendo para você de dentro de um corpo que era teu. — ocean vuong

então ajusto o timbre
que a voz é minha
a voz de menina
que não sabia
quando parar 
de falar 
então falava
sozinha
aos cotovelos. 
estrilo de alegria
e me calo em reverência
quando pela primeira vez 
coloco os teus sapatos
uso as tuas roupas
queria apenas ser outra
e tu era quem estava ao alcance. 
então ajusto o corte 
que o texto é tecido
e quero costurá-lo
à medida do teu corpo
onde já habitei
dali de dentro 
onde hoje cultivas
rosas sem nome nem cheiro
brota tanta vida
se prolifera em células enlouquecidas
a tua vida
que gerou a minha 
e hoje existe neste meu corpo
que tem também a forma do teu.
então escrevo para que neste corpo-tecido
existas a partir de mim, para que de mim saias
e habites também este Aqui
para que em mim te demores
toda a vida, explodindo os meus Alis.

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na academia

a frieza da palavra me toma como uma lâmina de ferro gelado parece vidro porque é frágil mas me permeia como as árvores o vento