segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

um último de amor

 para M. na ocasião de seus 35 anos

é um nó que me ata os dedos
instrumentos da minha atual comunicação
no dia de celebrar iansã teu corpo todo se faz festa
território encantado dos teus segredos
meus dedos te percorreriam feito pés de samba descalço
acariciariam teus pelos (minhas matas) tuas têmporas
perdi o tempo de fazê-lo
atada como estou
inútil explicar a qualquer um
como sou capaz de desatar-me aqui
como escrevo-te sem ser para ti
que não me lês e mal sabes como estou
como te escrevo buscando-te na memória
tentando te celebrar neste espaço que criei
só para ti: um átimo de amor
mas é um nó o trago que me entala a garganta
não há mais estações de águas a arrebentá-lo
teu corpo então se tornou território sagrado
que meus dedos imundos não festejam mais
que minhas lágrimas salgadíssimas não banham mais
teus pés tuas mãos teus dedos livres não beijo mais
no ar que entra pela tua janela um cheiro salino de mar te alcança
: minhas tempestades a te desejar calmaria
finalmente a calmaria
único presente que pude te dar

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