"não é o fim do mundo,
só do universo"
para A. em ocasião da sua partida
daqui a alguns trilhões de anos, quando o tempo não fizer mais sentido e a última anã branca sozinha estiver estabelecendo tudo o que ainda não conhecemos, nada disso vai importar mais.
mas enquanto sei a diferença temporal entre uma onda e uma montanha, trato como sendo da maior importância.
precisamente pela raridade de reencontrar um amor e vivê-lo em sua pureza.
por desatar nós e finalmente
saber dizer que te amo.
contigo longe, ainda vou comer na nossa pizzaria e a pizza continuará saborosa. saborosíssima. moradores de rua em busca de um trocado pra pinga e pra droga virão falar comigo diretamente. e eu vou pensar em ti esboçando um sorrisinho cheio de saudade.
tu, também, vais ter a audácia de continuar rindo gostoso. vais te deitar em outras camas e amar outros gatos.
a lembrança da tua pele e da tua risada serão raios do teu sol nos meus dias chuvosos. e eu vou ter que te buscar na memória, lembrar de como rio contigo e da calmaria do teu abraço, onde me torno fluida — rio, mar, lágrima, suor e gozo.
no auge do teu atrevimento, vais levar de mim uns escombros de amor.
e tudo vai passar, erodindo a memória.
mas daqui, vendo a onda se formar gigante, meu desejo é que ela não quebre nunca. que se torne montanha. que por alguns trilhões de anos a gente fique nessa beira de praia sentindo o sal na pele. porque, quando aquela última estrela renovar o universo, algo de nós ainda vai estar lá. pronto pra rebentar.
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