sexta-feira, 21 de agosto de 2020

nu corpo

sinto meu corpo lento
cada alongamento é um
golpe violento uma
faca que atravessa e
separa o músculo
da carne que pulsa
lúcido enfim o corpo
nu como há muito não
se comprime de modo
inexprimível em sua extensão
o calcanhar enfim encosta
no chão e alinha-se até o topo
do pescoço onde a carne é
enfim macia é tenra entre
teus dentes ferozes luzentes
que há tanto não me comem
a carne e eu passo fome da tua
estico-me alongando-me provando-te
tentando alcançar-te além do morro
e morro cada centímetro que não
te toco inteiro o meu corpo cuíca
não há samba sem teus dedos
o espaço é buraco e silêncio
entre nós mas eu tento
e me atiro e tiro
o pó e as teias
para que logo te dê na telha
me faças soar a música de golpe
inteiro, o movimento dissolve
lento a distensão deste corpo
ligeiro

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