quinta-feira, 14 de maio de 2020

e l' alba è un pugno in faccia verso cui tendo le braccia
- Francesco Guccini
Amanhece, outra vez,
muito depois das pálpebras cansadas
que não encontraram ainda um dia
sequer de descanso e sensatez:
outra noite despedaçada
cortada em pequenas partes
blocos de tempo.
Se eu fosse criança, poderia ainda
brincar de lego e casinha
pegaria peça por peça e formaria
um todo talvez incoerente
mas algo poderia ainda fazer:
usaria minhas mãos
e deixaria meus olhos voltarem-se
para realidades outras, não circundantes.
Se eu fosse criança, uma outra,
brincaria despreocupada
cada bloco um objeto único, fascinante,
que se reformularia na ponta de meus dedos
conforme a vontade de meus pequenos desejos.
Mas hoje, quase aniversário da minha última solidão,
não sei diferenciar o tempo vivido, apenas o tempo sonhado:
sei que um dia é diverso do anterior e do seguinte
pela força dos meus medos
que me acompanham noite adentro
e me lembram que há sempre algo novo a ser temido
há sempre alguma morte, alguma violência:
há sempre ausência
e o sol que não esbraveja.

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