segunda-feira, 28 de outubro de 2019

(enquanto você dormia; ou manhã de primavera)

adorado
coberto de ouro cor
da tua boca ao acordar
e dos teus olhos tímidos
ao levantar-me seguem-me
feito eu fosse estátua de gesso
adorado coberto de ouro úmido
teu couro macio a que chamas
de pele (a minha em chamas)
entre as divindades não te reconheço
és como o magma que permite-se
um vislumbre momentâneo quando
da erupção - magneticamente intangível
adorado coberto de ouro acobreado, cor
enfim a dos teus lábios quando
roçam os meus cabelos sonolentos
pela lembrança dos teus dedos
adorado coberto de ouro
é como te vejo quando
deitado em meus sonhos
te ouso tocar os pés
te ouço tocar os sinos
de mármore fundido em fogo
de paixão e fúria (a nossa filha)
adorada da cor da minha
peregrinação incessante
pelo onírico espaço entre teus joelhos
recém amanhecidos de vida:
epítome da nossa preguiça
amálgama de pérolas incrustadas
de sal e alga marinha
de fervor dourado
dos nossos olhos (a ira)
acobreados

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