sábado, 11 de agosto de 2018

A louca da porta ao lado, Alda Merini



O amor,
aquele que busco
decerto não está dentro do teu corpo
que deitas sobre mulheres fáceis
sem qualquer importância.
O amor que eu quero
é a presença constante
é o olho do patrão vigilante
que arde de seu cavalo.
Assim cavalguei cavalos de sombra
e os outros que me viram
correr sem freios
me consideraram louca.
De fato uma mulher que vive só
sem um escudo ornamentado
sem um ornato de crianças
não é nem mãe nem mulher
mas um nome híbrido que vem
estampado no rodapé da tua página.



La ragazzetta milanese, a miúda de Milão, é como Pasolini se referia a Merini. Numa das leituras que fiz sobre Caproni, descobri que também foi graças ao Pasolini que Caproni conseguiu se inserir melhor na cena literária romana/italiana: um grande poeta reconhece grandes poetas. E ele imediatamente reconheceu a força literária nos versos da Merini. Uma poética que experimentou duas décadas de silêncio enquanto ela esteva internada na clínica do abandono diagnosticada com distúrbio bipolar, para então voltar com La terra santa (Scheiwiller, 1984), considerada sua obra-prima. Clinica dell’abbandono (Einaudi, 2004) talvez faça referência a esses longos anos de solidão (tema que quero pesquisar no meu TCC, então talvez eu tenha coisas mais interessantes sobre isso ano que vem).


a poesia dela tem uma heterogeneidade que eu gosto muito: é arcaica e selvagem, é honesta, e tem ritmo, tudo envolto por certo mistério e certeza de sabe-se lá o que. Retomando Pasolini: “de fontes para a pequena Merini certamente não se pode falar: frente à explicação desta precocidade, desta monstruosa intuição duma influência literária perfeitamente congenial, nos declaramos desarmados”.


L’amore,
quello che io cerco
non è certo dentro il tuo corpo
che adagi su donne facili
senza alcuno spessore.
L’amore quello che voglio io
è la costante presenza
è l’occhio vigile del padrone
che arde del suo cavallo.
Così ho cavalcato cavalli d’ombra
e gli altri che mi hanno
visto correre senza briglie
mi hanno considerato pazza.
In effetti una donna che vive sola
senza uno scudo istoriato
senza una storia di bimbi
non è né madre né donna
ma un ibrido nome che viene
stampato in calce alla tua pagina.

(de Clinica dell'abbandono, Einaudi, 2004)

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