sábado, 24 de fevereiro de 2018

de tanto vai-e-vem

queria dizer algo como envezados
envileirados, não, que não estão
em formato de vila, nem o são.
enfileirados, estão, mas não.
não é isso, ainda, Carlos.
você me entende, mas
sabe o que eu quero
dizer?
queria dizer algo como
enviesados, talvez estejam,
até. esses prédios todos, Carlos,
eu quero dizer. não quero dizer que
não estão assim: em vila, em fila, de viés.
talvez estejam. outro ponto de vista, de cima,
eu quero dizer.

eu quero dizer: os prédios estão em forma de V,
Carlos, de V. no final da rua eles se encontram, sem
se cruzar, que não estão encruzados, encruzilhados.

eu quero dizer: os prédios estão em forma de V,
no meio deles: o céu inteiro, negro, imenso, atravessa,
sobrepõe, apaga. que força a dessas luzes que não
iluminam as estrelas e os cometas a noite inteira?
que força a das lamparinas acesas num quarto
pequeno em que não se lê sequer um poema?
 que força a das meninas acesas num quarto
a noite inteira, sem um milagre que lhes suceda?
eu quero dizer: lá de cima, alguém me vê?
a luz acesa - eu vejo - uma silhueta
pequena, um ponto. Carlos, um 
ponto pode ter, 
também,
forma
de
V?
{09-08-17}

Nenhum comentário:

Postar um comentário

das conchas

todo ato de fala verdadeiro é um gesto de coragem e nada mais forte do que ser                                                       vulnerá...