sábado, 24 de fevereiro de 2018

a vizinha catarina

nas rachaduras dos meus pés,
entranhadas, partículas vermelhas
de uma terra vizinha e quase minha,
fazem-me velhinha
sem prole que m’ouça
contar casos de quando moça.
nas linhas finas de meus cascos
- que asco! -
se confundem: o vermelho
o amarelo e o cinza, daqui
- d’onde, dançantes, os duendes
e, risonhas, cantantes, as bruxas -:
areia que cobre a rua inteira
e prepara um suave carnaval
para esse povo de maral no céu
sambar com anjos, até que
as ostras se abram sozinhas.
nas erosões provocadas
pelo tamborilar dos meus dedos
e calcanhares pelos ares,
estranham-se pedrinhas
dessa terra vizinha que não deixa
de ser, também, a minha,
mas que, com esponja e sabão,
perde a vermelhidão:
esbranqueço na saudade
{25-07-17}

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