para a minha mãe, paciente oncológica
é preciso o instrumento certo.
as mãos sem luva mesmo
com atenção extrema
tomam o ancinho
o podador, a serra...
me pergunto com que delicadeza
posso abrir-te a barriga
para começar a trabalhar
no teu jardim secreto
e tirar tudo o que
explode
a vida;
com que delicadeza posso
entrar-te outra vez no ventre
encontrar as raízes e
deixar-te ali somente
as tuas queridas rosas,
extirpar-lhes as formigas famintas;
deixar-te ali somente
o perfume do dia ameno
a luz dos vagalumes
e o canto de uma ave rara;
com que delicadeza posso
deixar-te semente
para que brotes infinita
em vida?
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