segunda-feira, 23 de junho de 2025

nunca vi uma mulher chorar

vi mulheres lavarem louças
passarem roupa
com amaciante
ajudei a encher baldes
passar no chão 
o pano limpo
um pouco de desinfetante
na sala
no quarto
no corredor
nos banheiros úmidos
dos banhos tomados
a mão
alisando a toalha da mesa 
com migalhas de pão
o ouvido atento
os olhos distantes
algumas delas sorriem
por empatia
e outras abraçam 
homens e crianças
de narizes entupidos
sem palavras
aos prantos

nunca vi para onde vão os olhos
secos dessas mulheres
quando ignoram o choro
e viram muralhas

segunda-feira, 9 de junho de 2025

minhas mãos naquele momento
pareciam feitas de vidro quente
frágeis e aquecidas tentavam
segurar o sangue dentro de mim
ou as lágrimas ou esse mel
que a todo momento parecia 
buscar um caminho-saída

não sentia meu corpo explodir
mas sobretudo como se eu precisasse
ser maior maior maior maior maior
como se em mim faltasse espaço
mas não por erro matemático
do que há dentro mas 
sim como se necessário fosse
que meu corpo fosse plástico
em vez de vidro

como se pudesse esticar mais


do que 'rebentar

na academia

a frieza da palavra me toma como uma lâmina de ferro gelado parece vidro porque é frágil mas me permeia como as árvores o vento