quinta-feira, 10 de novembro de 2022

lambo o sangue da ferida aberta
enquanto o ferro me fere a língua
me fere a lembrança das tuas mãos
que lavavam geladeiras e pisos
a bucha tão adaptada a elas
como explicar o som da tua voz
de fundo de mudança de tom
dos meus dias amarelos

é claro que
eu não sei dizer
se era realmente verde
a tua camisa naquele dia
se era azul ou amarela
ou vermelha todas
as tuas cores

mas eu lembro assim
teus olhos nem tão fixos
na prateleira da geladeira
a água corrente da torneira
do tanque te beijavam as mãos
espumadas de sabão
e confundo
o teu olhar verde
com o teu olhar azul
segurando o nosso gato em tuas mãos
é um beijo o encontro desses corpos
e eu ali ausente registrando
me lembro assim
como uma melodia
um samba
que insiste em tocar

escorre do canto da boca
sangue e baba e suor
o meu dia não tem fim
não sei quando foi
que te amei
se te amei
meu bem
tanto, me negastes
e eu não
eu não
te amei

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