faz tanto tempo que tu
não me olhas
não me ouves
não me tocas
e todas as folhas
que caem desde o outono
me lembram de ti
não tanto pela queda
pela separação
o corte necessário
por perderem a cor
por se desmancharem
é a tua voz que escuto
rouca distante abafada
a chuva que bate
afoga o teu timbre
bate e afoga
a tua voz nas ruas
molhadas vacilantes
afogadas
pluviais
sazonantes
torrenciais
lentamente
afoga e cai
nessa umidade
minha cabeça trovoa
no lampejo te vejo
iluminad'as
tuas mãos
não me tocam
fechadas
grito e não me ouves
não me respondes
não vejo teus olhos
sei que não me olhas
meu grito ecoa
afogado
as ruas molhadas
até a tua casa
é um
eu morro
a minha voz
os meus olhos
o teu suor
não chegam
onde estás
teus olhos de menino
silenciosos
já os cabelos em pérolas
me pergunto
não me escutas
não me ouves
não me vês
não me tocas
a pele
sou a despelada
ali
apertada espremida entre
as tuas mãos molhadas
afogada
a pérola?
Nenhum comentário:
Postar um comentário