segunda-feira, 3 de outubro de 2022

faz tanto tempo que tu
não me olhas
não me ouves
não me tocas
e todas as folhas
que caem desde o outono
me lembram de ti

não tanto pela queda
pela separação
o corte necessário


por perderem a cor
por se desmancharem

é a tua voz que escuto
rouca distante abafada
a chuva que bate
afoga o teu timbre
bate e afoga
a tua voz nas ruas
molhadas vacilantes


afogadas
pluviais
sazonantes
torrenciais


lentamente
afoga e cai

nessa umidade
minha cabeça trovoa
no lampejo te vejo
iluminad'as
tuas mãos

não me tocam

fechadas
 

grito e não me ouves
não me respondes
não vejo teus olhos
sei que não me olhas
meu grito ecoa
afogado
as ruas molhadas
até a tua casa
é um
eu morro

a minha voz
os meus olhos
o teu suor
não chegam
onde estás
teus olhos de menino
silenciosos
já os cabelos em pérolas

me pergunto
não me escutas
não me ouves
não me vês
não me tocas
a pele

sou a despelada


ali
apertada espremida entre
as tuas mãos molhadas
afogada
a pérola?

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