domingo, 18 de outubro de 2020

domingo desmanche

deito sob o sol
sobre o chão de taco
e me estendo como tapete

vou pensando no que me acome-te
respondendo às perguntas: empilhando-se

e pego no sono
como quando menina
há uns vinte anos
sentindo-me muito mais
o abismo temporal entre eu
e eu mesma então, no Antes

sonho a praia
meu corpo se estendendo
todo sabendo-se parte da areia
e do mar que me invade dentro
as pernas arregaçadas
despreocupada estrela do mar
a pele empanada deixando-se banhar
feito fosse mesmo criatura do mar
feito fosse água-viva em praia de banhista
e sinto-me inteira totalmente
des/pe/d/assada um pedaço
em cada parte da praia
completando-me somente na paisagem
impossível aos meus olhos de sereia cegados
e vou sentindo o vento a queimar meu cabelos
a criar-me rugas precoces na pele de verão
escamosa como nunca Antes
o corpo jogado inteiro no chão
imóvel, imobilizado, esperando a onda me lavar

feito redemoinho
feito rede e, claro, moinho
diversão e desespero
a boca bem grande tentando beber
toda a água para enfim ser-
mos o mesmo mar

acordo ensopada de sangue
enxergando o mundo todo azul
feito ainda fosse menina
um pouco menos cretina
: ainda inteiriça

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