sábado, 2 de maio de 2020

i.
uma mulher caminha a pés descalços
o vestido branco se arrastando terra
a fora como fera sem fome
caminha, quebra com a sola dos pés
grãos e folhas secas a cada passo
mas quase sem fazer barulho
e não o faz por delicadeza
pela calma com que percorre
os campos em busca de nada;
correndo círculos ao seu redor
um leão que ruge como quem surge
pela segunda vez na mesma pintura
como um espelho que não reflete
a imagem mas sim uma aura, uma ruptura
corre ao seu redor e desenha na terra
o caminho circular do tempo transcorrido
pelos passos da mulher de vestido
branco se arrastando pela terra;
responde a seu rugido com um grito
um canto que vem surgindo
e ecoando pelos quatro cantos
dessa mesma terra, desolada
em seus encantos

ii.
uma mulher que é um mago move
suas mãos lentamente sobre
a mesa e suas ferramentas
tem diante de si tudo o que precisa
os quatro elementos e suas mãos
as quatro estações e seus olhos
os quatro períodos do dia e a precisão
de quem reconhece um padrão
essa mesma mulher que há pouco corria
cobriu-se de um manto branco e vermelho
e precisa agora se concentrar na função
na magia que opera em suas mãos
macias mas ferozes: empunha uma espada
e aponta para o alto; segura uma taça voltada ao chão
diante de seus olhos um pentagrama dourado
calmamente forjado em fogo cálido
os pés ainda cheios de terra deslizam
sobre madeira e galhos pisados
seu ventre rodeado de uma serpente
dourada em chamas que se agarra
à própria cauda com os dentes
tudo converge para este momento presente
: o futuro; o tempo-espaço se revelando
até aqui, todo o universo
em desencanto

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