sexta-feira, 20 de março de 2020

quando rufam os tambores
dentro dentro das entranhas
abertas apertadas alucinadas
quando rufam os tambores
e a caixa toráxica não sabe
sambar no ritmo da batucada
o corpo todo estremece
como quem não sabia
da chegada do terremoto
ou da lava do vulcão
que começa a se espalhar
pelo ar e pelo chão
o corpo todo se agita
como quem de repente
se vê no meio da bateria
e se lembra de novo
que não sabe mesmo sambar
quando rufam os tambores
e a mulher se deita sentindo
o peso morto do piano de caldas
sobre o peito de vidro
o mar se rebenta
e volta a rebentar-se
na praia vazia deserta
de fim de verão
hoje ainda mais deserta
a batucada acelera

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