domingo, 2 de fevereiro de 2020

(lendo ana martins marques)
i.
longe do mar
há o que se pensar
?
pois se os herois
eles vêm mesmo quase
sempre de algum mar
vêm por entre ondas e
nuvens, por entre raios
de sol e trovoadas
revelam: em si
a natureza enquanto força

um profeta, entretanto
quase sempre vem das montanhas
isto é
um homem surge entre os morros
caminha entre cabras e vacas
esfrega as mãos em arbustos
pelo caminho
vem e traz algo de maravilhoso
algumas palavras, já
pronunciadas antes?
traz uma metáfora
a distância que apaga
e revela
o poder da palavra
absurda
como a dimensão
de uma montanha

ii.
o que pensam as pessoas
que vivem longe do mar
ou
que não conhecem
o mar
onde há a imensidão
o inifito em sua possibilidade
a vastidão jamais conhecida
?

;

no topo da montanha
passeia uma cabra entre
as árvores, e o vento
que anuncia mudança
de tempo
no topo da montanha
os últimos raios do dia
que continua

iii.
mas veja
há ainda
uma pequena ilha
em cujo céu uma revoada
de pássaros alinhados em v
delineiam o traço imperceptível
o desenho inconcebível do infinito
em que montanha e mar revelam-se
contínuos

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