terça-feira, 24 de julho de 2018

letture

arranco-as

colho flores e folhas diversas
de um jardim colorido que
não é o meu. está na rua,
para todos, de todos
feito de tudo o que há em nós.
os nós ligam
espinho
folha
e
caule
nós que interligam
a estrutura complexa
de uma rosa (aquela que
ninguém jamais soube dizer o que é)

colho-as e carrego-as em meus braços
de mulher
avanço pelas esquinas (odores acres)
deixo cair, no caminho, pedaços
de mim, de minha colheita
se precisar, refaço meus passos
e recolho as folhas secas
os espinhos esquecidos;
e nunca reencontro
as flores despetaladas,
só sempre novas pétalas
em novas cores
odores
texturas
[tessituras, como bem se sabe]

percorro o ar matutino -- de vidro,
o nada às minhas costas --
me recosto num muro
(da terra) que dá para a minha casa
perpasso meus pés, minhas asas,
meus olhos; retorno às encostas
no escuro
onde encontrei esta sina
meu primeiro jardim
já não está mais ali
deu espaço a uma praça
que resgata e esgarça
minhas palavras
engata meus caminhos
escancara minhas folhas
onde encontro minhas pétalas
outras

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