terça-feira, 29 de abril de 2025

me desvelo-invento a cada palavra
me vinha de dizer palavra-verso
mas em mim o verso só vem

nunca vai 
o verso não vira voz
o verso vira vós

me vela o inverso
: enfim o verso vai

como uma rosa desabrochada
sinto todo o meu corpo
pesar sobre a minha existência
a cabeça que vai em direção ao chão
os ombros tristes em sua postura curva
tudo me pesa em mim
a cabeça os braços os peitos as coxas
e quando sangro
vermelha feito rosa
me despetalo
desejando uma chuva torrencial de verão
desejando uma geada brutal de inverno
que me desfaçam
que me arranquem do pé

me tive tatuada na pele uma rosa pensa
porque é a flor preferida da minha mãe
e eu como suas rosas cresci no seu jardim
sei que como ela tenho as coxas pra ser firme
me tive tatuada na pele também margaridas
leves como a minha avó que sempre as preferiu
e me tive tatuada na pele ainda um cyclâmen
porque é a minha flor preferida, que li
num verso de merini um dia
porque ela se vira quase toda do avesso
— como um escorpião, que me rege o sol —
porque ela se vira quase toda do avesso
criando a ilusão de uma flor
se expõe inteira, firme
frágil

na academia

a frieza da palavra me toma como uma lâmina de ferro gelado parece vidro porque é frágil mas me permeia como as árvores o vento