quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

teu corpo é um acúmulo de estações
de chuvas e tempestades carregadas de trovões
de sóis e veraneios salgados com cor de fruta madura
nele estão todos os anos e todos os filhos
a tua criança e a tua mãe juntas
na pontinha da tua unha a dor de algumas separações
e quando passas as pontas dos dedos recordas
o caminho da cicatriz, desenho de tantas reparações

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

primeiro o dedo
se enfia no suco fermentado
a textura das pequenas bolhas
do peso da fruta mais que madura
parecem querer decompor também
este corpo
então a mão
tenta agarrar ali dentro algo de vida
pensa em picles e cogumelos crescendo
na roseira que a cada alguns dias se renova
não sabe se deve fazê-lo
se o processo de fermentação
de deixar apodrecer o que não tem mais lugar
é tão impuro quanto seu corpo
se seria possível jogar um pouco de açúcar
por toda a sua pele e se deixar transformar
levada a outro estado de impermanência
ou se antes muito lygianamente seria comida por formigas

na academia

a frieza da palavra me toma como uma lâmina de ferro gelado parece vidro porque é frágil mas me permeia como as árvores o vento